quinta-feira, 2 de abril de 2009

G20 E OS EGOS E ECOS DE UMA ACÇÃO GLOBAL

"No fim da cimeira [do G20] de Londres, os líderes reunidos concordarão numa declaração conjunta, mas as divergências permanecerão".

Joschka Fischer, ex-ministro alemão dos Negócios Estrangeiros, PÚBLICO, 02-04-2009

O que dizer de uma cimeira onde uma vez mais a Europa primou pela “ausência”, apesar de terem participado a Comissão Europeia, a Itália, a Alemanha, o Reino Unido e a França. As divisões do passado e os interesses de primeira linha divergentes, para além da ausência de uma liderança, não permitem que o “velho continente” se erga para se juntar a Pequim e Washington na resposta à gravíssima crise internacional.
A actual conjuntura de crise mundial era a janela de oportunidade para que a Europa assumisse o seu papel junto de uma nova administração norte-americana, cuja visão e actuação se adivinham mais próximas da matriz europeia.Quando se esperava que esta cimeira representasse para o mundo “uma nova arquitectura financeira e global” como disseram Merkel e Medvedev, assiste-se a uma Europa incapaz de exercer a pressão necessária para que se estruturem soluções comuns para problemas globais. Mas o momento maior da crise num projecto europeu unificado, surge após um extraordinário alargamento aos países do leste europeu, que hoje equacionam a saída, ao verificarem o alheamento das nações mais fortes da UE face aos seus problemas.
A Europa podia e devia assumir um magistério de relações entre nações e perdeu a oportunidade de aproximar a EUA e a Rússia que estão divididos quanto à revisão do Tratado de Redução de Armas Estratégicas (Start II) que caduca no final do ano e mais profundamente na expansão da Nato à Geórgia e Ucrânia, representando um cerco geográfico à Rússia que tem um papel determinante de influência político-estratégica em vários cenários como o Afeganistão ou o Irão.
Não me sobram dúvidas para acreditar nesta declaração conjunta fortemente estruturada numa afirmação política e económica, como é o caso do documento final que visa o “acordo de acção global” para reactivar a economia internacional, e que pretende a reforma do sistema bancário (penalizando dos paraísos fiscais), para além de um gigantesco pacote de estímulo financeiro, a revisão das instituições internacionais, o apoio ao comércio global e novos fundos para o combate à pobreza. Mas a memória, a história e os acontecimentos mais recentes também me dizem que os interesses e egos nacionais sopram ainda mais alto que os interesses globais.

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